Governo quer mudar lei para abrir vaga a militares da reserva no serviço público
Diante de deficiência de mão de obra e restrição de
recursos, intenção é dar gratificação ou abono para que reservistas executem
atividades civis em qualquer órgão; hoje, além das funções militares, eles só
podem ocupar cargos de confiança
Idiana Tomazelli e Felipe Frazão, O
Estado de S. Paulo
17
Fevereiro 2019 | 04h00
BRASÍLIA - O
número de militares no governo Jair Bolsonaro, que já chama a atenção, pode
crescer ainda mais. Com o dinheiro cada vez mais curto para suprir a
deficiência de mão de obra no serviço público, o governo quer ter maior
liberdade para aproveitar militares da reserva em outras atividades, incluindo
as civis. A ideia é dar uma gratificação ou um abono para que eles executem
tarefas de acordo com sua especialidade. Hoje, só podem ser aproveitados em
funções militares ou ocupar cargos de confiança, o que limita o remanejamento.
A proposta foi inserida na minuta de reforma da
Previdência obtida pelo Estadão/Broadcast. Uma fonte da ala militar confirma que existe no
governo a intenção de ampliar o aproveitamento desse contingente de mais de 150
mil reservistas, embora entenda que não há necessidade de mudança
constitucional para isso. No texto da minuta, o dispositivo prevê que uma lei
estabelecerá regras específicas para que os reservistas exerçam atividades
civis em qualquer órgão. Esse tempo de exercício na nova atividade não teria
efeito de revisão do benefício já recebido na inatividade.
Governo quer mandar proposta da reforma da
Previdência para a Câmara até o fim de fevereiro. Foto: Ernesto
Rodrigues/Estadão - 1/2/2019
Atualmente, os
militares passam para a reserva (uma espécie de aposentadoria) após 30 anos de
contribuição – período que deve aumentar para 35 anos com a reforma
previdenciária. Muitas vezes, têm menos de 50 anos de idade. Ficam disponíveis,
até os 65 anos, para serem convocados em caso de guerra ou outra ameaça
urgente, o que é extremamente raro.
Os reservistas podem
hoje apenas executar a chamada Tarefa por Tempo Certo (TTC) que, como diz o
nome, é exercida por prazo determinado. Mas esse instrumento só vale para
atividades militares. Nessa situação, ele não ocupa cargo, ou seja, é uma pessoa
a mais trabalhando na estrutura sem concorrer com os servidores que já
trabalham naquela área.
Se as mudanças forem
aprovadas, eles poderão exercer funções na administração federal sem ter de
passar por concurso público – uma palavra praticamente vetada nesses tempos de
falta de recursos. E aumentariam ainda mais o contingente de militares dentro
do governo – além do presidente Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão,
há também sete ministros com formação militar.
A área econômica já
vem buscando alternativas para otimizar a gestão de pessoal no serviço público
diante da restrição de recursos e da iminência de aposentadorias na esfera
civil do funcionalismo. Nos órgãos do Executivo e nas estatais, o governo tem
mapeado onde há excedente de mão de obra e quem precisa de reforços.
O plano, por isso, seria “aproveitar dentro de
casa” os militares da reserva que hoje têm chance de buscar trabalho na
iniciativa privada, mas não podem, por exemplo, ser aproveitados pelo
Ministério da Infraestrutura, a não ser que haja um cargo comissionado
disponível para alocá-lo. Procurado, o Ministério da Defesa não se pronunciou.
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