Reforma da Previdência pode elevar em até 9 anos tempo de serviço de PMs e bombeiros do Rio
Reforma da Previdência pode
elevar em até 9 anos tempo de serviço no Rio
Extra Rio de Janeiro (RJ) 17/01/2019. Servidores militares criticam
possivél mudança na previdência. Na foto Da Silva em frente ao QG da PM. Foto
Marcos Ramos / Agencia O Globo. Foto: Marcos Ramos / Globo - Rio
Nelson
Lima Neto
A reforma da Previdência que é
discutida pelo governo federal pode alterar idade mínima de contribuição
durante a atividade de policiais e bombeiros militares dos estados. No caso do
Rio, a mudança pode aumentar o tempo de serviço em até nove anos. Hoje, os
militares precisam contribuir por, no mínimo, 30 anos para terem direito à
reserva remunerada, mas muitos se aposentam antes. A proposta discutida eleva o
período para 35 anos (veja o quadro abaixo).
Dados de dezembro do Rioprevidência apontam
que o tempo médio de contribuição de PMs e bombeiros é de 26 anos. O período é
até menor que o prazo necessário hoje (de 30 anos), mas tem explicação pela
saída de agentes reformados ou a averbação do período em escolas militares,
questões que também podem mudar. Segundo o Caderno de Recursos Humanos do
Estado, os servidores das duas categorias são os que se aposentam mais cedo: 51
anos (bombeiros) e 50 (PMs). O Rio conta, hoje, com 25.519 policiais e 8.901
bombeiros na reserva remunerada ou reformados.
Há 18 anos no Corpo de Bombeiros,
Mesac Eflaín avaliou os pontos positivos e negativos antes de ingressar na
corporação, aos 23. A chance de se aposentar antes dos demais servidores, o
direito ao salário integral da ativa e a oferta uma aposentadoria equivalente a
uma patente acima o fizeram optar pela carreira.
— Não vejo como obrigar esses
profissionais, após três décadas de serviços excepcionais, a correrem atrás de
bandidos. Não consigo imaginar um bombeiro combatente subindo dez andares para
apagar um princípio de incêndio na Avenida Presidente Vargas — disse Eflaín,
que é presidente da Associação dos Bombeiros Militares do Estado do Rio
(Abmerj).
Na reserva remunerada desde 2015, o
primeiro-tenente Nilton da Silva, de 55 anos, não considera justa a alteração
pela falta de esclarecimentos sobre o que levou o Rio ao atual déficit.
— Precisamos saber o que fizeram com
o Rioprevidência. E toda mudança precisa antes ser debatida com as categorias —
disse o representante do grupo SOS Polícia.
Impacto nos cofres
Uma das justificativas para o aumento
do tempo de serviço é o peso que os militares sobre a Previdência. Pelos dados
do Rioprevidência, o Rio gastou, em dezembro do ano passado, R$ 363 milhões com
policiais e bombeiros da reserva e reformados. Cerca de 40% da folha de
aposentados é referente a militares, sendo que os 33.770 que já deixaram a
atividade equivalem a 21% do total de inativos. O Rio fechou 2018 com 160.729
aposentados.
Os direitos levados para a
inatividade, porém, são defendidos pela Associação dos Oficiais Militares
Estaduais do Rio (AME-RJ).
— Não temos pagamento de
insalubridade e FGTS, não podemos nos sindicalizar e decretar greve. São
algumas das razões para o tratamento diferenciado. E quem está na reserva pode
voltar à atividade — disse o coronel Fernando Belo, presidente da AME-RJ.
Depoimento - Fábio Zambitte,
especialista em Direito Previdenciário
‘É necessário conversar com
quem será afetado’
— É necessário conversar com quem
será afetado pelas mudanças. Se chegar com um projeto pronto, as pessoas podem
não aceitar. No caso de PMs e bombeiros, será que eles têm que ser militares?
Se mudar a estrutura da carreira, pode-se pensar numa dinâmica mais justa.
Agora, se eles são militares, estão sob o estatuto militar. Não dá para
considerar, durante o debate de uma reforma, que eles sejam colocados junto aos
demais. Dá para mexer, mas é preciso pensar de forma mais ampla.
Depoimento - André Luiz Marques,
especialista em gestão e políticas públicas do Insper
‘Não tem Previdência que
sustente este modelo’
— Hoje , há um incentivo perverso: o
individuo escolhe a carreira, pois sabe que se aposenta antes e com salário
integral. Na visão dos servidores, vale a pena correr riscos. Hoje, não tem
sistema previdenciário que sustente esse modelo. Ou os demais terão que pagar
mais, ou os militares entrarão no bolo. Eles poderão trabalhar por mais tempo —
que é a ideia inicial — ou não se aposentarão mais com os proventos integrais.
No cenário atual, o militar deixa a ativa aos 50 anos, e não há sistema que
suporte.
EXTRA/UNPP
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