Diretor da Abin se diz desprestigiado pelo novo governo e pede demissão .
18 de maio de 2016
Recriação do GSI:
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
A decisão do presidente interino Michel Temer (PMDB-SP) de recriar o
GSI (Gabinete de Segurança Institucional) sem antes discutir a ideia com o comando
da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) gerou turbulência no setor e um pedido de
demissão do diretor-geral da agência, Wilson Roberto Trezza.
O GSI havia sido extinto por Dilma em medida provisória de outubro passado, e desde
então a Abin passou a se submeter a uma pasta comandada por um civil, a Secretaria
de Governo.
O pedido de demissão foi feito pessoalmente por Trezza, que está há oito anos no
comando da Abin, nesta segunda-feira (16) em reunião com o novo ministro do GSI,
o general do Exército Sérgio Etchegoyen.
A saída definitiva, porém, poderá não ocorrer imediatamente, mas sim após as
Olimpíadas, de forma a evitar problemas na condução da segurança do evento, da
qual a Abin participa.
Além disso, o processo de substituição não é tão rápido, pois o indicado deve passar
por sabatina no Senado.
Trezza e Temer haviam se reunido em sigilo há cerca de duas semanas no Palácio
do Jaburu, quando o diretor-geral da Abin, segundo a Folha apurou, disse ao então
vice que uma grande reivindicação da Abin era se subordinar diretamente ao presidente
da República, sem "intermediários".
Trezza afirmou a Temer que um contato direto com o presidente permitiria cumprir
melhor as funções da Abin, que incluem "assessorar" o presidente.
NOTA
A dificuldade de acesso aos presidentes é reclamação recorrente da Abin.
Durante os governos de Dilma Rousseff, por exemplo, a presidente nunca
recebeu Trezza para conversa privada –eles se encontraram apenas em reuniões
ampliadas, com a participação de ministros– e também nunca esteve na sede da Abin,
em Brasília.
Ao final do encontro com Temer, conforme versão apurada com duas fontes que pediram
para não ser identificadas, o então vice-presidente disse que pensaria na proposta e
voltaria a entrar em contato com Trezza.
Integrantes da Abin, porém, só souberam pelo "Diário Oficial da União" de sexta (13)
que não só a Abin continuaria longe do presidente, mas também que voltaria a ser
subordinada ao GSI, comandado por um militar.
A recriação do GSI também resultou em uma dura nota da Aofi (Associação
Nacional dos Oficiais de Inteligência), formada por servidores da Abin. Intitulada
"Informação ao ministro", a nota foi emitida para negar que a Abin tenha
"rompido" relações com agências congêneres internacionais, informação atribuída
pela imprensa a Etchegoyen.
A nota diz que o ministro "aparentemente também desconhece que as gestões do
GSI nunca foram boas para a inteligência" e que a última delas, encerrada
em 2015, "foi particularmente desastrosa para a atividade de inteligência de Estado".
Até 2015 presidente da CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades
de Inteligência) do Congresso Nacional, a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG)
considerou "um equívoco" o retorno do GSI.
OUTRO LADO
A assessoria do presidente interino, Michel Temer, informou que ele "não deve
satisfações à Abin" na hora de decidir sobre os rumos do setor de inteligência
no governo. "A lógica de ele ter que explicar o que está fazendo está invertida.
Ele é o presidente, escolhe como vai ser a sua gestão."
A assessoria afirmou que Temer foi procurado recentemente pelo diretor-geral
da Abin, Wilson Trezza, para receber explicações do órgão sobre as alegações
e suposta espionagem que o vice teria sofrido em 2015. Ela confirmou que o ministro
do GSI Sérgio Etchegoyen "está informado" sobre o pedido de demissão do
diretor-geral da Abin.
Procurado, Trezza disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Folha de São Paulo/UNPP
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