Exclusivo: Um terrorista no Brasil .
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Condenado por planejar atentados terroristas na França, Adlène Hicheur hoje vive como professor no Brasil, para onde veio com bolsa do governo federal e é investigado pela PF
FILIPE COUTINHO, ANA CLARA COSTA E HUDSON CORRÊA .
08/01/2016 - 21h31 - Atualizado 08/01/2016 22h41
De sandálias de couro, instalado numa sala pequena no 3º andar do departamento de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o físico Adlène Hicheur, 39 anos, tem o physique du rôle atribuído aos cientistas. É magro, tem olheiras profundas e trabalha em uma pequena escrivaninha aboletada de livros. Disciplinado, Hicheur, toda sexta-feira, se desloca para fazer suas orações numa mesquita na zona norte do Rio de Janeiro. Argelino de nascimento e naturalizado francês, Hicheur tem um segredo em sua biografia que o pôs sob investigação da Polícia Federal brasileira. Em 2009, ele foi preso e condenado na França a cinco anos de detenção pela acusação de planejar atentados terroristas.
Até ser preso, Hicheur era considerado um cientista brilhante, especialista em física das partículas elementares. Ele integrava a equipe da Organização Europei de Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em francês) que mantém em Genebra, na Suíça, o maior laboratório de aceleração de partículas do mundo, uma espécie de santuário para os PhDsn da área. Em 2009, ele teve uma crise de dores na coluna, tirou uma licença médica e foi para a casa dos pais, na França. Lá, passou a frequentar um fórum na internet usado por jihadistas e a trocar mensagens com um interlocutor apelidado de “Phenix Shadow” (fênix da sombra, numa tradução literal). Sob essa alcunha, escondia-se a identidade de Mustapha Debchi, apontado pelo governo francês como um membro da Al Qaeda na Argélia.
O site já era investigado pela polícia francesa, que identificou potencial de risco nas mensagens enviadas por Adlène Hicheur e passou a monitorá-lo. ÉPOCA obteve os 35 e-mails trocados
por ele e decriptografados pela inteligência francesa. Eles usavam um programa de criptografia chamado Asrar, criado pela Al-Qaeda para trocar informações e armazenar conversas sigilosas.
As mensagens entre “Phenix Shadow” e Hicheur começaram genéricas. “Phenix Shadow” menciona o governo do então presidente francês Nicolas Sarkozy, para quem, diz ele, a sua hora chegaria “em breve”. Na sequência, “Phenix” pergunta a Hicheur se ele estaria disposto a fazer um ataque suicida. Recebe uma negativa como resposta. Ao longo da conversa, “Phenix” fez uma abordagem sem rodeios a Hicheur: “Caro irmão, vamos direto ao ponto: você está disposto a trabalhar em uma unidade de ativação na França? Que tipo de ajuda poderíamos te dar para que isso seja feito? Quais são suas sugestões?”.
por ele e decriptografados pela inteligência francesa. Eles usavam um programa de criptografia chamado Asrar, criado pela Al-Qaeda para trocar informações e armazenar conversas sigilosas.
As mensagens entre “Phenix Shadow” e Hicheur começaram genéricas. “Phenix Shadow” menciona o governo do então presidente francês Nicolas Sarkozy, para quem, diz ele, a sua hora chegaria “em breve”. Na sequência, “Phenix” pergunta a Hicheur se ele estaria disposto a fazer um ataque suicida. Recebe uma negativa como resposta. Ao longo da conversa, “Phenix” fez uma abordagem sem rodeios a Hicheur: “Caro irmão, vamos direto ao ponto: você está disposto a trabalhar em uma unidade de ativação na França? Que tipo de ajuda poderíamos te dar para que isso seja feito? Quais são suas sugestões?”.
Em 2012, o caso de Hicheur foi citado num estudo da ONU sobre o uso da internet em atentados terroristas. Virou exemplo das “diferentes formas em que a internet pode ser usada para facilitar a preparação de atos de terrorismo, incluindo comunicações entre organizações que promovem o extremismo violento”. Depois de obter a liberdade condicional, em 2012, Hicheur dedicou-se a duas coisas: mudar informações na Wikipedia a seu respeito, que mencionam o caso de terrorismo, e a tentar recuperar o emprego no CERN. Ele foi barrado, porém, pela polícia suíça. Em abril de 2015, ao julgar um recurso de Hicheur, a Justiça suíça manteve a proibição da presença do cientista no país até abril de 2018. “A gravidade dos fatos leva o tribunal a considerar que a manutenção da interdição de entrada se justifica por motivos ligados à segurança interior e exterior da Suíça. As atividades executadas pelo recorrente são, com efeito, objetivamente de uma gravidade suficiente para justificar a decisão de afastamento”, diz a decisão da Justiça.
EPOCA/UNPP
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