Traficantes expulsam PMs de contêiner no Alemão .


Traficantes expulsam PMs de contêiner no 


Alemão; agora, garagem é usada como base


Ana Carolina Torres, Fabiano Rocha e Paolla Serra
Tamanho do texto A A A
Há pelo menos um mês, a base avançada da UPP Alemão da Rua Canitar mudou de endereço. Os policiais militares da unidade não usam mais o contêiner verde. Agora, eles, um ventilador, uma garrafa térmica e um rádio de comunicação da corporação dividem espaço com um lava a jato. Sem viatura, as guarnições se revezam ali, dia e noite, porque criminosos determinaram que fiquem a cerca de 50 metros da antiga instalação.
— De dia, ainda conseguimos ficar na porta, aqui do lado de fora. Quando escurece, entramos e não saímos mais — relatou um soldado.
Policiais militares, que só ficam a cerca de 50 metros da antiga base avançada no Alemão (em verde, no detalhe)
Policiais militares, que só ficam a cerca de 50 metros da antiga base avançada no Alemão (em verde, no detalhe) Foto: Fabiano Rocha / Extra
Durante a manhã e a tarde da última quinta-feira, o EXTRA percorreu a região. Em dois turnos, oito PMs alternavam o policiamento do local. Pelo rádio, os bandidos avisavam: “Não pode passar da faixa, senão está tudo brotado”, diziam, sobre o limite para a circulação dos militares. No local, segundo os policiais, há duas barricadas feitas pelos bandidos com trilhos de trem, onde eles ficam armados com pistolas e fuzis.
— O clima aqui é tenso. É tiroteio toda hora, todo dia. Fomos expulsos do contêiner. Não tem como irmos ali. Nos abrigamos nessa garagem. A gente está muito exposto. A gente só pode andar até ali (aponta para o contêiner). Dali para lá é tudo deles — disse outro soldado.
Dentro da garagem usada como nova base pelos PMs, há um ventilador, uma garrafa térmica e o rádio da corporação
Dentro da garagem usada como nova base pelos PMs, há um ventilador, uma garrafa térmica e o rádio da corporação Foto: Fabiano Rocha / Extra
Toda a movimentação policial é acompanhada pelos olheiros: “Passa a visão, aí. Está tudo monitorado.” “Tem um Logan e um carro da reportagem”, alertavam, também pelo radiotransmissor.
— Eles (criminosos) falam o tempo todo: “Vai morrer, PM! Bota a cara!”. São 24 horas ouvindo isso. E eles monitoram tudo, além de nós. Sabem de cada carro que entra. Sabem até que vocês estão aqui — contou outro policial.
Segundo os PMs, durante a noite tem sido frequentes as trocas de tiros no local. Na noite da quinta-feira da semana passada, por exemplo, militares ficaram encurralados naquele trecho da Canitar depois de serem alvejados por disparos. Na ação, um soldado foi ferido de raspão no joelho e outro foi baleado na perna. Em um áudio, os colegas de tropa chegaram a narrar o episódio: “Dois policiais resgatados, procedendo ao HGV (Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha). Comandante, preciso do apoio do Batalhão de Choque”, diz o PM que estava dentro de uma viatura.
PMs não fazem abordagens a suspeitos
Desde que uma das duas bases avançada da UPP Alemão deixou de ser sediada no contêiner, policiais militares da unidade só se abrigam na garagem. Eles sequer chegam próximo da antiga estrutura. Na garagem usada atualmente, entretanto, não há geladeira ou banheiros. Em ao local, os militares montaram duas fileiras, com cinco cones cada uma. A intensão seria coibir a movimentação de suspeitos, de carro ou de moto. Em vão, segundo os próprios PMs.
— Você acha que, com aquela estrutura decadente, conseguimos fazer uma blitz, uma contensão ali? Não fazemos nem abordagens muito menos revistas. Está tudo dominado por eles — desabafa um soldado.
O contêiner verde foi substituído, em julho do ano passado, depois que um transformador foi atingido durante uma troca de tiros entre PMs e criminosos. Na ocasião, o equipamento que ficava próximo a base avançada pegou fogo, danificando o contêiner antigo — que trazia a inscrição UPP na lataria.
O contêiner verde, que era usado como base avançada até um mês atrás
O contêiner verde, que era usado como base avançada até um mês atrás Foto: Fabiano Rocha / Extra
Na última quinta-feira, o EXTRA encontrou uma viatura da unidade a pelo menos um quilômetro da nova base avançada. Enquanto a garagem usada pelos PMs atualmente fica no número 743 da Rua Canitar, o carro da corporação estava próximo ao 125. Dois PMs de fuzil estavam no local. Neste percurso, há uma localidade conhecida como Campo do Sargento, antigo local de venda de drogas e presença de traficantes armados.
Já no final da Canitar há a região do Largo do Bulufa, onde os militares contam que não fazem policiamento, nem a pé nem de viatura, “há meses”. Na continuação da rua, é possível acessar ainda a comunidade Nova Brasília, onde há outra UPP e a sede da 45ª DP (Alemão). Na região, há locais, como o Largo da Vivi, onde tiroteios entre PMs e bandidos são frequentes.
Procuradas pelo EXTRA, as assessorias de imprensa da Polícia Militar, da Coordenadoria de Polícia Pacificadora e da Secretaria de Segurança não responderam os questionamentos sobre o assunto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Tabela dos 28,86%

Pai de cabo da Marinha morta em assalto no Rio vai processar o Estado .

Raul Jungmann encontra pela primeira vez oficiais-generais do MD .