Exército vai reforçar investimentos em tecnologias de defesa no Brasil .
27 de setembro de 2013
Uma das razões para o investimento é a defesa estratégica dos
recursos naturais do país. Cerca de 1,2 bilhão de reais serão aplicados
na próxima década para criar polo de produção de pesquisa tecnológica.
Parcerias com outros países deve ir além da compra de equipamentos
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O Exército brasileiro quer investir em pesquisa, especialmente no
desenvolvimento de novas tecnologias de defesa. Até 2025, cerca de 1,2
bilhão de reais vão construir o Polo de Ciência e Tecnologia do Exército
em Guaratiba (Pcteg), Rio de Janeiro. Uma das razões para o
investimento é a defesa estratégica dos recursos naturais do país.
O general Sinclair Mayer, Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia
do Exército, destaca que o espaço não vai servir apenas para a formação e
pesquisa militar. Assim como ocorre na Escola Superior de Guerra, por
exemplo, civis poderão estudar e pesquisar no complexo. "Temos hoje
poucos peritos na área de defesa e temos o interesse de formar mais
gente", adianta Mayer.
Os benefícios da pesquisa militar se aplicariam a outros campos. "Não se
pode fazer um carro de guerra sem antes testar combustíveis", compara.
Mas a preocupação com tecnologia não está restrita à produção de
material bélico – também está relacionada à posição estratégica do país.
O modelo se assemelha ao usado pelo exército norte-americano, que além
do desenvolvimento de armas, investe em áreas como logística, química e
saúde.
Defesa de recursos
Para o pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz
de Fora, Expedito Bastos, o Brasil precisa de investimentos na área de
defesa, já que concentra recursos estratégicos privilegiados como
grandes reservas minerais, petróleo e água doce. "O mundo tem por hábito
buscar essas coisas quando precisa", argumenta o especialista. O
general do exército reconhece a possibilidade, mas minimiza os riscos.
"Existe preocupação com o futuro, mas a própria estratégia nacional de
defesa prevê isso", afirma.
Para Bastos, uma melhora na defesa brasileira ainda não seria o bastante
para fazer frente ao poderio militar de grandes potências, mas ajudaria
a "diminuir a ânsia de que tentassem fazer alguma coisa contra nós".
Outra preocupação é a situação fronteiriça, uma vez que alianças
importantes de países vizinhos poderiam oferecer riscos ao Brasil.
Parcerias com outros países deve ir além da compra de equipamentos
Parcerias com outros países deve ir além da compra de equipamentos
Conhecimento centralizado
Os planos do Pcteg são de concentrar órgãos já existentes, como o
Instituto Militar de Engenharia (IME) e outros braços técnicos, em um
mesmo espaço, no estado do Rio de Janeiro, que já conta com cerca de 20%
de toda a estrutura planejada.
O Exército tem parceiros no governo, mas planeja garantir o dinheiro por
meio de parcerias público-privadas (PPPs). O primeiro investidor é o
Ministério da Educação. O órgão não confirma o montante, mas diz que o
investimento vai triplicar o número de vagas do IME.
A concepção do projeto é da década de 1980, quando a área militar de 25
quilômetros quadrados recebeu as primeiras instalações. Por lá já
funcionam o Centro Tecnológico e o Centro de Avaliações do Exército.
Além do IME, o espaço deve receber ainda o Instituto Militar de
Tecnologia (IMT), o Centro de Avaliações do Exército (CAEx), o Centro de
Desenvolvimento Industrial (CDI), a Agência de Gestão da Inovação
(AGI), o Instituto de Pesquisa Tecnológica Avançada (IPTA), uma
Incubadora de Empresas de Defesa (IED), o Arsenal de Guerra do Rio de
Janeiro (AGR), uma base administrativa e um batalhão de comando.
Conhecimento desperdiçado
Apesar de aprovar a iniciativa do Exército de investir em tecnologia, o
estudioso de assuntos militares não acredita em uma mudança da situação.
Ele cita que o Brasil passou por ciclos de investimento e sucateamento
dessa força. Em cada uma dessas oportunidades, a descontinuação das
pesquisas provocou a perda do conhecimento gerado e anos de trabalho
foram perdidos, aponta Bastos. A culpa disso seria o planejamento em
curto prazo – a visão para um governo ou dois – e não a montagem de uma
estratégia mantida a longo dos anos.
Outra crítica de Bastos é quanto às parcerias internacionais, que trazem
tecnologia externa, mas não fazem a transferência do conhecimento
prevista nos contratos. Para ele, essa tentativa de troca é inválida se
as duas partes não estiverem no mesmo patamar de desenvolvimento. Em
casos assim, uma das partes vai ser meramente usuária do recurso. "É o
que está acontecendo conosco", avalia.
Para o especialista, a virada depende não apenas de investimentos
militares, mas da solução de problemas básicos do país, com educação de
qualidade desde a base. Além disso, ele vê com ceticismo a garantia de
recursos para a conclusão do projeto, uma vez que o Ministério da Defesa
costuma ser penalizado em cada ajuste do orçamento da União. Este ano, a
pasta foi a que mais perdeu no ajuste de contas. Dos 18,7 bilhões de
reais inicialmente previstos, foram mantidos 14,2 bilhões no orçamento
deste ano, incluindo a folha de pagamentos, previdência e a própria
manutenção das estruturas já existentes.
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