Desenvoltura de Mourão desperta a ira de líderes de igrejas evangélicas
O discurso independente e a desenvoltura do
vice-presidente desgastaram a relação do Palácio do Planalto com o setor
evangélico
Por ESTADÃO
CONTEÚDO
Publicado às 09h40 de
10/02/2019 - Atualizado às 09h40 de 10/02/2019
·
General Mourão - Romério Cunha/VPR
O discurso independente e a desenvoltura do
vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) desgastaram a relação do Palácio do
Planalto com o setor evangélico, considerado fundamental na eleição do
presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, líderes de igrejas que durante a
campanha apoiaram explicitamente o candidato do PSL e representantes do
segmento no Congresso expuseram a insatisfação com o vice, principalmente após
ele se manifestar contra a transferência da embaixada brasileira em Israel para
Jerusalém.
As lideranças religiosas e parlamentares da bancada
evangélica pretendem pressionar o presidente para que ele desautorize
publicamente o vice - Bolsonaro permanece internado em São Paulo se recuperando
da cirurgia para a reconstrução do trânsito intestinal.
Na condição de presidente em exercício, Mourão
recebeu no último dia 28 o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben,
e defendeu a posição que contraria manifestações anteriores do próprio
Bolsonaro.
Com 108 deputados e 10 senadores na atual Legislatura,
a Frente Parlamentar Evangélica, que tem uma atuação historicamente coesa em
defesa de suas bandeiras, terá um peso decisivo para a agenda do governo no
Congresso Nacional.
"Vamos cobrar (do Bolsonaro) o cumprimento
daquilo que foi tratado. Se o Mourão está a serviço de algum grupo de interesse
contrário a que isso aconteça, tenho convicção que ele perdeu essa queda de
braço. Mourão é um poeta calado. Sempre que abre a boca cria um problema para o
governo", disse ao Estado o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ),
principal porta-voz da Frente.
O deputado deve assumir a presidência do grupo nos
próximos dias O atual presidente, deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR), não se
reelegeu.
Os evangélicos ficaram também incomodados com o
vice por causa de uma entrevista na qual ele defendeu que o aborto é uma
escolha da mulher. O ponto central das queixas, contudo, é a questão da mudança
da embaixada brasileira de
Tel-Aviv para Jerusalém. "Esse foi um
compromisso de campanha do presidente da República com nosso seguimento. Nós
não pedimos muitas coisas a ele, mas essa
foi uma delas", disse Sóstenes.
"Por que o Mourão, sabendo das bandeiras do
Bolsonaro, não se manifestou antes
da eleição? É uma coisa feia esconder suas
convicções. Faltou protocolo e ética no exercício da função dele Mourão está
fazendo campanha para 2022, mas a ala conservadora não vota nele nunca",
disse ao Estado o pastor Silas Malafaia, líder da igreja evangélica Vitória em
Cristo e presidente do Conselho dos Pastores do Brasil.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
reconheceu Jerusalém capital de Israel em dezembro de 2017. Cinco meses depois,
a embaixada norte-americana foi transferida para lá.
Para o bispo e presidente do Ministério Sara Nossa
Terra, Robson Rodovalho, a mudança da embaixada "facilitaria muito" a
viagem de brasileiros a Israel e estimularia a ampliação da oferta de voos.
Os contrários à mudança alertam para os potenciais
prejuízos para as exportações brasileiras para países árabes, que estão entre
os principais importadores de carne bovina e de frango do País. O Brasil pode
também receber pressão da comunidade internacional. Para a ONU, o status de
Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz.
"Quando o Bolsonaro se recuperar, nós vamos
marcar uma audiência com ele. A ideia é levar uma carta deixando claro nossa
insatisfação. Hoje, o Mourão é uma instituição e deveria guardar as opiniões
para ela", disse o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR). Na semana
passada, outros parlamentares usaram a tribuna da Casa para criticar
publicamente o vice.
Segundo fontes do primeiro escalão das Forças
Armadas ouvidas pelo Estado, Mourão age de forma "coerente" com o
pensamento dos militares, especialmente quando faz críticas à política externa
e sinaliza que a prioridade do governo deve ser a agenda econômica, e não a de
costumes.
Ao desautorizar o chanceler Ernesto Araújo sobre a
oferta de uma base no Brasil para os EUA, Mourão reproduziu a linha de
pensamento dominante nas Forças Armadas, que contam com sete quadros no primeiro
escalão e representam um dos pilares da administração. Procurada, a assessoria
do vice disse que ele não iria se manifestar.
As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
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