Militares candidatos terão projeto unificado e Mourão como cabo eleitoral .

19 de maio de 2018


 Mourão como cabo eleitoral

General Antonio Mourão durante sua despedida do Exército em fevereiro de 2018 (Pedro Ladeira/FolhaPress)















 Do UOL, em São Paulo 
Um grupo de militares organizados pelo general da reserva Antônio Hamilton
 Martins Mourão em torno do Clube Militar vai desenvolver diretrizes de 
programas de governo e pautas no Legislativo de cerca de 70 militares 
pré-candidatos às eleições de 2018 --entre eles, postulantes à Câmara e Senado,
 governos e assembleias estaduais. Mourão disse ao UOL que, se eleitos em 
número suficiente, a ideia é formar uma bancada militar no Congresso.
 A articulação, com pré-candidatos em todos os estados, é inédita após a ditadura
 militar. O Clube Militar, que tem como sede um prédio na Cinelândia, na região 
central do Rio de Janeiro, deve funcionar como um centro para essa articulação e
 divulgação das candidaturas. 
O general, que integrou o Alto Comando do Exército e deu declarações polêmicas
 entre 2015 e 2017 (criticando o governo Dilma Rousseff e sugerindo uma intervenção
 militar no governo), avalia que chegou a hora de os militares retornarem ao poder pelas
 vias democráticas. "Agora não resta dúvida de que a sociedade está clamando por
 isso", afirmou. Filiado ao PRTB, ele diz que não se candidatará a cargo público,
 mas atuará como articulador e usará sua imagem para ajudar nas campanhas dos 
colegas. Candidato único à presidência do Clube Militar, Mourão deve ser eleito por 
aclamação no fim deste mês. Fundado em 1887, o clube é uma instituição privada
 que reúne militares da reserva e da ativa e tem funcionado como órgão representativo,
 pois eles não podem formar sindicatos. Seu passado é marcado por intenso 
envolvimento político, como nas campanhas abolicionista e republicana, mas, 
desde a ditadura militar, o clube vinha evitando a política (exceto ao se manifestar contra
 os resultados da Comissão da Verdade em 2014). 
Os pré-candidatos, que pertencem a legendas cujo espectro político abrange da direita ao
 centro (PSL, PR, DEM, PSD, PROS, PSDC, PRP, PTB, PEN, PHS, NOVO,
 Patriotas, PRTB e PSDB), pretendem lançar mão de financiamento coletivo 
na internet e das redes sociais para divulgação. Independentemente das siglas,
 a maioria deve apoiar o pré-candidato à Presidência pelo PSL Jair Bolsonaro que,
 segundo a última pesquisa, lidera a corrida eleitoral com 18,3% das intenções de 
voto em um cenário sem o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde 
abril na carceragem da PF em Curitiba. Os programas abordarão temas como o 
combate à corrupção, integração da segurança pública e privatização de estatais. 
Mourão diz ver com ressalvas programas sociais de renda, uma das principais políticas
 dos governos de Lula e Dilma Rousseff.
O movimento acontece em um momento em que as Forças Armadas estão em evidência
 na intervenção federal no Rio de Janeiro (chefiada por um general da ativa) e no
 socorro humanitário a imigrantes venezuelanos em Roraima. E ocorre após o
 comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, publicar mensagem no Twitter na 
véspera do julgamento pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de habeas corpus que
 poderia evitar a prisão de Lula --para analistas, a mensagem teve influência na
 decisão. Também ocorre em cenário marcado pela divulgação dos chamados
 papéis da CIA, documentos da agência de inteligência americana que indicam o
 aval de expresidentes militares brasileiros, como Ernesto Geisel, para assassinatos
 de opositores do regime militar. O Exército afirmou, porém, que apesar dos postulantes
 terem origem militar, não possui qualquer ligação com as pré-candidaturas.
 O Centro de Comunicação Social do Exército afirmou ao UOL que "o Exército Brasileiro
 é uma Instituição de Estado, politicamente neutra e apartidária". "O posicionamento da 
Força baseia-se sempre nos interesses nacionais e o seu emprego é imparcial, com
 foco nas missões constitucionais", disse, por meio de nota. Pedro Ladeira/Folhapress 
General Antonio Mourão durante sua despedida do Exército em fevereiro de 2018 
Movimento militar e eleições Nas eleições de 2010, alguns oficiais do Exército, 
da ativa, reserva e simpatizantes, tentaram articular um movimento para participar 
democraticamente do pleito à Presidência. "Naquele momento surgiu a figura 
do general [Augusto] Heleno [Ribeiro Pereira], pela inteligência, pela capacidade de
 diálogo, pela argumentação, pela liderança inconteste que ele tem até hoje", disse Mourão.
 Heleno foi o primeiro comandante brasileiro da missão de paz da ONU no Haiti e se
 envolveu em polêmicas ao contestar ações do governo Lula . Os organizadores do
 movimento chegaram a dizer que ele tinha mais de 5 milhões de potenciais eleitores.
 Mas o general, que era da ativa, afirmou na ocasião que não seria digno se aproveitar
 do poder e prestígio que tinha no Exército para se lançar em uma candidatura. 
Ele nunca se candidatou a nenhum cargo. Um partido militar chegou a ser formado, 
mas não avançou. Nas eleições de 2010, quase não houve candidatos militares
 significativos e, em 2014, o desempenho deles foi modesto. Mas, segundo Mourão, 
a deterioração do cenário político com os escândalos de corrupção e o fortalecimento
 da candidatura de Bolsonaro criaram em 2018 um ambiente mais favorável para os militares.
Contudo, um oficial mais cético, que pediu para não ter o nome revelado, vê certo exagero
 na animação dos colegas. Segundo ele, alguns pensam que apenas os seus nomes 
ligados às Forças Armadas serão suficientes para elegê-los. "Não vai ser tão fácil assim. 
As campanhas são complexas e nós não temos proximidade com a política. Somos
 cartesianos e algumas coisas não vamos querer fazer", disse o militar. Plataforma
 e valores comuns Mourão observa que, apesar da singularidade de cada estado brasileiro,
 as plataformas a serem elaboradas terão linhas de ação em comum. "Nós temos 
condições de organizar a plataforma que irá orientar os nossos diferentes candidatos
 em todos os estados da federação. Não resta dúvida que a gente sabe que cada caso
 é um caso, cada estado tem a sua problemática, mas as soluções passam na maioria
 das vezes pelas mesmas linhas de ação", disse Mourão. "Os nossos candidatos 
estão aí em sua grande maioria em partidos ligados à direita e, na realidade, eu
 acho que o elo comum que nos une são todos aqueles valores que nós viemos praticando
 desde o momento que ingressamos na instituição militar", disse, em referência a valores
 como honra, integridade, patriotismo e sacrifício, bastante explorados pelo próprio Bolsonaro.
 Segundo Mourão, os pré-candidatos vão dar atenção a temas como o combate à corrupção,
 a alta carga tributária do país, a otimização dos gastos públicos e o combate à criminalidade
 em todo o país de forma organizada. O general Roberto Peternelli (PSL), que tem 
organizado listas e feito os contatos no grupo, diz que há outras bandeiras comuns, como
 a defesa da propriedade privada e o estímulo da privatização de empresas estatais. 
Mourão diz que programas sociais de renda e habitação são importantes, mas não 
podem beneficiar eternamente quem os usa. "A partir de determinado momento, 
aquela pessoa vai ser liberada dessa ajuda e vai caminhar com as suas próprias pernas.
 Infelizmente, a nossa população, parcela dela, tem aquela tendência de ficar aguardando
 que o coco caia na cabeça, não pode ser assim." Para tornar as candidaturas
 viáveis, os militares devem recorrer a campanhas de financiamento coletivo, 
o crowdfunding. Para a divulgação, eles afirmaram que confiarão no potencial das
 redes sociais e do boca a boca. Mourão disse que vai reforçar a divulgação desses
 pré-candidatos usando as redes sociais, a revista e as reuniões do Clube Militar. 
Bancada militar "Existe um termo usado na Brigada Paraquedista que diz que aves 
da mesma plumagem voam juntas. Esse grupo militar que eventualmente for eleito 
]vai ser uma bancada, apesar de pertencer a diferentes partidos", disse Mourão. 
Ele também não descartou que militares eleitos se aproximem simultaneamente a
 outras bancadas, como a ruralista. Em 2017, Mourão foi muito criticado por sugerir 
a possibilidade de uma intervenção militar no governo. Ele disse que, se as instituições
 civis não solucionassem o problema político do país retirando da vida pública pessoas
 envolvidas com atos ilícitos, "nós [militares] teremos que impor uma solução".
Ao ser perguntado pelo UOL se há alguma possibilidade de os militares voltarem ao
 poder por vias não democráticas, Mourão afirmou: "uma coisa tem que ficar muito 
clara: se o país flertar com o caos, é dever constitucional das Forças Armadas garantir 
os poderes e garantir a lei e a ordem". Como exemplo de caos, citou o que vê como
 "desrespeito à legislação vigente". "Nós temos um caso agora que poderia ter levado
 ao caos, vamos olhar aí essa questão do julgamento feito pelo STF do foro, a
 questão do foro, esse é um troço que deveria ter sido resolvido pelo Congresso e
 não pelo STF". Neste mês, o Supremo Tribunal Federal restringiu, mas não acabou
 completamente com o foro privilegiado de políticos. Mas, questionado como os militares
 poderiam voltar ao governo, Mourão respondeu: "vamos chegar pelas urnas".

Veja a entrevista completa do General Mourão

UOL/UNPP


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