General Heleno: clamor por intervenção é semelhante ao de 1964, mas caminho são as eleições


31 de maio de 2018


General Heleno

Clamor por intervenção militar é semelhante ao de 1964, diz general da reserva 
General Heleno, ex-comandante no Haiti, porém, afirma que Forças Armadas 
repudiam a ideia 
O general Augusto Heleno (à esq.), durante cerimônia de transmissão de comando, em 2011
General Heleno, em foto de 2011 (Sergio Lima/Folhapress)


















Isabel Fleck
O general da reserva Augusto Heleno, 70, que foi o primeiro comandante das tropas da
 ONU no Haiti, diz ver semelhanças entre os atuais pedidos de intervenção militar e
 o período anterior ao golpe de 1964. O militar, que já declarou apoio ao pré-candidato
Jair Bolsonaro (PSL), contudo, afirma que as Forças Armadas estão “vacinadas” e não
 pretendem tomar o poder.  "É lógico que as Forças Armadas se sentem 'lisonjeadas'
pela credibilidade que essas faixas demonstram, mas têm plena consciência de que
esse não é o caminho. O caminho são as eleições que vão acontecer", disse o general,
em entrevista à Folha.

Como o sr. vê os pedidos de intervenção militarpresentes nos protestos dos 
caminhoneiros? 
Não são só os caminhoneiros. Há um crescimento exponencial desse tipo de
manifestação. Não é igual a 64, mas é semelhante, guardadas as enormes
 diferenças e devidas proporções. A semelhança é esse clamor popular pela
 intervenção militar. É um sentimento que vai crescendo na população que enxerga
 nos militares a solução para o problema nacional. Mas as Forças Armadas estão
vacinadas, não pretendem isso, não buscam isso e de maneira nenhuma trabalham
 para isso. 

Quais são as diferenças?
Há uma outra formação. Os valores das Forças Armadas são os mesmos, mas há
uma outra geração de militares, formada pela geração que viveu o período militar
e colocou na cabeça dos atuais generais que esse não era o caminho. Que esse
é um caminho esdrúxulo. Até tem previsto na Constituição uma intervenção no caso
 do caos, mas não é o pensamento nem o desejo dessa geração de militares. 

Por que o sr. considera que esses pedidos ganharam tanta força?
Ainda que se faça uma força danada para denegrir tudo o que foi feito, a imagem
que ficou daquela época [ditadura] é que era um país mais organizado, que a
população tinha uma vida melhor. Não estou dizendo que fosse assim, mas essa
 é a imagem que muita gente tem. Há uma espécie de conscientização de que os
 militares são capazes de colocar ordem na casa. Nós sabemos que isso é fruto de
 uma crise que o país está vivendo, depois de 13 anos de uma gestão desastrosa
do dinheiro público. Mas é claro que não vai se repetir. A história dá muitos ensinamentos,
 mas dificilmente se repete. 

Como os militares devem responder a esse clamor?
Eu não quero dar palpite, isso compete ao comandante. O general Villas Boas é um
 comandante com uma liderança extraordinária, tem enorme sensibilidade e eu
 tenho certeza que, se for necessário, ele vai colocar a posição do Exército em relação
 a isso. 

Nas Forças Armadas, há quem defenda intervenção?
Posso lhe garantir que os oficiais e generais da ativa afastam essa possibilidade,
 repudiam esse tipo de manifestação. É lógico que as Forças Armadas se
 sentem “lisonjeadas” pela credibilidade que essas faixas demonstram, mas têm plena
 consciência de que esse não é o caminho. O caminho são as eleições que vão acontecer. 

O sr. considera que a paralisação dos caminhoneiros ainda tem legitimidade,
 mesmo após acordo com Temer?
Eles procuraram fazer as reivindicações deles e também não causar maiores
 possibilidades de confronto. É natural que o país se ressinta porque o prazo
 foi relativamente largo para esse tipo de abstenção de combustível, comida.
 E na situação que o país está vivendo, em crise há muito tempo e se encaminhando
 para uma eleição, é lógico que existe gente que está torcendo para que tudo dê errado.
 Há quem defenda que o Bolsonaro seria um dos interessados no caos.
Tenho certeza que não. Ele já fez alguns pronunciamentos convidando a ter
prudência e comedimento, a acatar as ordens, a apoiar a atuação das forças legais.
FOLHA DE SÃO PAULO/UNPP


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