Primeira turma de mulheres ingressa na escola de cadetes do Exército.

19 de fevereiro de 2017

  Escola de cadetes do Exército recebe primeira

 turma de mulheres.


MOMENTO HISTÓRICO
Após 76 anos, mulheres ingressam na EsPCEx
Pela primeira vez na história, mulheres entraram no Exército Brasileiro (EB)
 para poder servir como oficiais na linha bélica. Elas já podem prestar
 concursos na Força Armada há 25 anos em áreas administrativas e de saúde,
 mas ingresso para vir a ser oficiais combatentes só partir deste sábado (18),
 quando foram matriculadas na Escola Preparatória de Cadetes do Exército
 (EsPCEx), em Campinas. Devido à importância do fato histórico, a cerimônia
 contou com a presença do general de Exército, infante Eduardo Dias da Costa
 Villas Bôas – atual comandante do EB.
“O ingresso das mulheres é algo extremamente natural e muito bem-vindo
 porque em todas as áreas em que elas já participaram, trouxeram um enriquecimento
 muito grande, tanto do ponto de vista humano quanto técnico. E a nossa expectativa
 é muito grande, muito positiva. Tenho certeza que será um sucesso”, declara o general.
Coincidentemente, a turma do general se formou há 50 anos na Preparatória. Por isso,
 a solenidade contou com 106 dos 372 alunos de 1967. Dos 372, 202 se formaram,
 36 já morreram e oito se tornaram generais. E, dos oito, apenas Villas Bôas veio a 
comandar o EB.
“Essa coincidência é uma tremenda motivação para essa turma de 2017 saber 
que um deles, daqui a 50 anos, pode vir a ser o comandante do Exército”, afirma o 
coronel de infantaria Gustavo Henrique Dutra de Menezes, diretor da EsPCEx.
 A escola tem 76 anos e é a porta de entrada obrigatória para todos que desejam
 entrar na Força Armada como oficiais (soldados com curso superior em Ciências
 Militares).
A Preparatória é o primeiro ano da faculdade militar e é responsável pela 
seleção e preparação do aluno em Campinas, que, ao chegar à Academia
 Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), recebe o título de cadete.
 Na Aman, o universitário cursa mais quatro anos, se forma, começa a subir de 
patente e pode chegar ao topo da carreira, que é ser general.
Na academia, o cadete já escolhe uma entre as sete 'especializações' que
 pretende seguir: infantaria (militar combatente por excelência, a pé), cavalaria
 (soldados em veículos, como tanques), artilharia (canhões, foguetes, mísseis),
 engenharia (para transposição de obstáculos no front) e comunicações
 (equipamentos que permitem a troca de mensagens entre os soldados),
 intendência (suprimentos, como recursos, alimentos e farda) e material bélico
 (mecânicos de viaturas).
No caso das mulheres, elas poderão escolher, por enquanto, entre intendência 
e material bélico. “O ingresso das mulheres na área bélica tem ainda um caráter
 experimental, para nós irmos ajustando (o processo)”, afirma Villas Bôas.
Igualdade
Em relação ao tratamento, a aluna Emily de Souza Bráz, de 16, conta que 
tudo é igual (para homens e mulheres). “Não tem diferença. Somos todos vistos
 como alunos”, diz a pioneira.
O coronel Dutra declara que a única diferença é que elas usam coque.
 “A gente não faz nenhuma diferenciação de cor, sexo, classe social. Cada 
um aqui vai ter o seu esforço recompensado de acordo com a meritocracia”.
Há mais de 50 anos é assim, atesta o arquiteto George Agnew, que se formou
 na Preparatória na turma de 1967, mas acabou optando por arquitetura em 
detrimento à carreira militar.
Desde aquela época, “não interessava cor, religião ou classe social. 
Todos fomos tratados como iguais e, assim, as amizades mais fortes e os grupos
 de amigos nasceram apenas da identificação de ideais e da compatibilidade
 dos integrantes, sem nenhum outro interesse. Lá, criamos e cultivamos amizades
 muito sólidas que permanecem até hoje muito intensas”.
Agnew conta que o que aprendeu na EsPCEx extrapolou o âmbito estudantil.
 “Aprendemos coisas que atualmente não são muito valorizadas como disciplina, 
honestidade, companheirismo e amor à pátria. As provas eram feitas sem fiscalização.
 O professor as distribuía, saia da sala e só voltava ao final do tempo para recolhê-las.
 Ninguém colava. A punição para a cola era o desligamento sumário da escola.
 Era um regime rígido de estudos, educação física e treinamento militar que 
transformou completamente o modo que encaramos a vida”.

Concorrido e árduo
Durante a solenidade de Abertura dos Portões, a entrega da boina é o momento em
 que o até então candidato passa a ser aluno da EsPCEx, marcando a consagração 
de um processo seletivo acirrado.
O vestibular é mais concorrido do que todos os cursos de engenharia da USP, e,
 no caso específico das mulheres, mais do que o de medicina daquela universidade.
 Em 2016 se inscreveram na Preparatória 29.771 vestibulandos, que competiram 
por 440 vagas (a relação candidato-vaga foi de 55 homens para 400 vagas destinadas 
a eles, e de 193 mulheres para 40 destinadas a elas).

Consagração do sonho emociona aluna da EsPCEx
Para a maioria dos alunos, entretanto, o mais difícil é o impacto da rotina civil 
para a militar. “A rotina é bem mais puxada. E o cansaço em si causado por esse
 choque é a maior dificuldade que a gente tem. Todos que estão aqui se esforçaram
 muito. E nós continuamos dando o nosso máximo. Cada etapa que a gente vence
 é uma conquista, mais um passo na realização desse sonho”, afirma o aluno 
Victor Hugo Alves de Araújo Lima, de 19 anos, de Recife (PE).
“É atividade o dia inteiro. A rotina é muito cansativa. Mas, a gente ergue a
 cabeça e segue. E o que mais nos ajuda é o companheirismo, que é muito forte. 
Todo mundo segue junto. Sempre que alguém precisa, todo mundo ajuda, dá aquela
 força, aumenta o moral nos momentos difíceis”, complementa a aluna Emily, que,
 por ser a mais nova da turma, abriu o portão da escola na cerimônia.
Essa solidariedade, que já é ensinada desde o começo, é necessária não apenas
 no dia a dia militar, como também nas guerras, onde a sobrevivência de um soldado
 depende muitas vezes do companheiro de farda.

Festa
A celebração começou com a entrada da Turma Marechal Mariano da Silva Rondon,
 que comemorou a passagem pelos mesmos portões há 50 anos. Em seguida, entrou
 a turma de 2017, que recebeu a boina azul-ferrete. O acessório é colocado nos novatos
 por padrinhos. Depois, houve a aula inaugural do exercício deste ano, ministrada
 pelo coronel Dutra. Para os alunos e para os familiares dos novatos foi oferecido um
 almoço; já para a elite do Exército, um coquetel.
CORREIO POPULAR/UNPP

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