General Eduardo Villas Bôas afirma haver ‘chance zero’ de retorno ao poder dos militares. Video


11 de Dezembro, 2016 - 15:20 ( Brasília )

Gen Villas Boas - ‘Malucos’ apoiam intervenção

General Eduardo Villas Bôas afirma haver ‘chance zero’ de retorno ao poder dos militares, mas que ‘tresloucados’ podem gerar reação em cadeia

Os intervencionistas ou MALUCOS, na Cãmara Federal, em 13 de Novembro de 2016. Foto Agência Brasil

Eliane Cantanhêde

BRASÍLIA - O comandante do Exército, General-de-Exército Eduardo Villas Bôas, diz que há “chance zero” de setores das Forças Armadas, principalmente da ativa, mas também da reserva, se encantarem com a volta dos militares ao poder. Admite, porém, que há “tresloucados” ou “malucos” civis que, vira e mexe, batem à sua porta cobrando intervenção no caos político.

“Esses tresloucados, esses malucos vêm procurar a gente aqui e perguntam: ‘Até quando as Forças Armadas vão deixar o País afundando? Cadê a responsabilidade das Forças Armadas?’” E o que ele responde? “Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto”.

Pelo artigo 142, “as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

O que o general chama hoje de “tresloucados” corresponde a uma versão atualizada das “vivandeiras alvoroçadas” que, segundo o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar, batiam às portas dos quartéis provocando “extravagâncias do Poder militar”, ou praticamente exigindo o golpe de 1964, que seria temporário e acabou submetendo o País a 21 anos de ditadura. “Nós aprendemos a lição. Estamos escaldados”, diz agora o comandante do Exército.

Ele relata que se reuniu com o presidente Michel Temer e com o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e avisou que a tropa vive dentro da tranquilidade e que a reserva, sempre mais arisca, mais audaciosa, “até o momento está bem, sob controle”. De fato, a crise política, econômica e ética atinge proporções raramente vistas, mas os militares da ativa estão mudos e os da reserva têm sido discretos, cautelosos.

“Eu avisei (ao presidente e ao ministro) que é preciso cuidado, porque essas coisas são como uma panela de pressão. Às vezes, basta um tresloucado desses tomar uma atitude insana para desencadear uma reação em cadeia”, relatou o General-de-Exército Villas Bôas, lembrando que há temas mais prosaicos do que a crise, mas com igual potencial de esquentar a panela, como os soldos e a Previdência dos militares.

Na sua opinião, Temer “talvez por ser professor de Direito Constitucional, demonstra um respeito às instituições de Estado que os governos anteriores não tinham. A ex-presidente Dilma (Rousseff), por exemplo, tinha apreço pelo trabalho das pessoas da instituição, mas é diferente”.

Em entrevista ao Estado, na sua primeira manifestação pública sobre a crise política do País, o comandante do Exército admitiu que teme, sim, “a instabilidade”. Indagado sobre o que ele considerava “instabilidade” neste momento, respondeu: “Quando falo de instabilidade, estou pensando no efeito na segurança pública, que é o que, pela Constituição, pode nos envolver diretamente”.

Aliás, já envolve, porque “o índice de criminalidade é absurdo” e vários Estados estão em situação econômica gravíssima, como Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais. Uma das consequências diretas é a violência.

Ao falar sobre a tensão entre o Judiciário e o Legislativo, depois que o ministro Marco Aurélio Mello afastou o senador Renan Calheiros da presidência do Senado por uma liminar e Renan não acatou a ordem judicial, o comandante do Exército admitiu: “Me preocupam as crises entre Poderes, claro, mas eles flutuam, vão se ajustando”.

O general disse que se surpreendeu ao ver, pela televisão, que um grupo de pessoas havia invadido o plenário da Câmara pedindo a volta dos militares. “Eu olhei bem as gravações, mas não conheço nenhuma daquelas pessoas”, disse, contando que telefonou para o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para se informar melhor e ouviu dele: “Eu não tenho nada a ver com isso”.

Bolsonaro, um capitão da reserva do Exército que migrou para a vida política e elegeu-se deputado federal, é uma espécie de ponta de lança da direita no Congresso e não apenas capitaneia a defesa de projetos caros às Forças Armadas, como tenta verbalizar suas dúvidas, angústias e posições e se coloca como potencial candidato à Presidência em 2018.

“No que me diz respeito, o Bolsonaro tem um perfil parlamentar identificado com a defesa das Forças Armadas”, diz o general, tomando cuidado com as palavras e tentando demonstrar uma certa distância diplomática do deputado.

É viável uma candidatura dele a presidente da República em 2018, como muitos imaginam? A resposta do general não é direta, mas diz muito: “Bolsonaro, a exemplo do (Donald) Trump, fala e se comporta contra essa exacerbação sem sentido do tal politicamente correto”.

Comandante diz que Previdência de militares deve mudar
'Alguma coisa vem por aí', afirmou o General Eduardo Villas Bôas


As Forças Armadas estão prontas a dar sua colaboração para o ajuste fiscal e para a reforma da Previdência, inclusive com aumento do porcentual de contribuição e da idade da aposentadoria, mas sem equiparação com o regime do funcionalismo civil.
“Alguma coisa vem por aí, provavelmente aumento da idade mínima de aposentadoria e aumento da contribuição”, adiantou o general Eduardo Villas Bôas ao Estado. “Mas a equiparação de regime não é possível, porque as Forças Armadas têm peculiaridades que outras instituições não têm.”
O general disse, por exemplo, que os militares não têm hora extra, muitas vezes trabalham dias e até semanas direto. Além disso, não têm direito a sindicalização nem a greves, o que torna seu poder de pressão por mais salários ou melhores condições de trabalho bem diferente do que está à disposição do pessoal das áreas civis. Oficiais e soldados, segundo ele, são deslocados para locais inóspitos, como regiões de fronteira, mudam de endereço e cidade várias vezes ao longo da carreira e, portanto, têm condições de trabalho diferenciadas.
As Forças Armadas ficaram de fora da proposta de reforma enviada pelo Planalto ao Congresso, mas uma proposta exclusiva para elas será apresentada publicamente em 2017.


Mensagem do Exército Brasileiro ao Povo Brasileiro na pessoa
do Comandante General-de-Exército Eduardo Villas Bôas.



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