Forças Armadas do Brasil investem R$ 43 milhões neste ano em atletas de ponta .
18 de agosto de 2016
Forças Armadas do Brasil
BRUNO VILLAS BÔAS
LUIZA FRANCO
MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO
Das 11 medalhas conquistadas pelo Brasil até esta terça (16), nove
vieram de atletas patrocinados pelas Forças Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica).
Os nove medalhistas integram o programa de alto rendimento dos
ministérios da Defesa e do Esporte, criado em 2008 e que apoia 670
atletas com soldo de R$ 3.200 mensais brutos, além de plano de saúde e
odontológico. Somente neste ano, o programa investe R$ 43 milhões.
As
exceções entre os medalhistas são o ginasta Diego Hipólito, 30, prata
no solo, e o baiano Isaquias Queiroz, 22, prata na canoagem.
O programa foi criado para atrair atletas civis para reforçar os quadros
das Forças Armadas durante os Jogos Militares de 2011, no Rio, e
continuou neste ciclo olímpico.
Após o início do programa, o Brasil se tornou uma potência nos Jogos
Militares. Em 2007, na Índia, havia ganhado três medalhas. Em 2011,
liderou o quadro, com 45 medalhas de ouro.
Para
receber o apoio, atletas precisam concorrer em editais públicos. Se
aprovados, tornam-se militares temporários -terceiro-sargento do
Exército, Marinha ou Aeronáutica. Eles passam a receber os benefícios
dos militares da ativa.
Além do soldo e dos benefícios, os esportistas têm acesso a instalações
militares para treinamentos, o que pode ser vantagem em algumas
modalidades, como atletismo e tiro esportivo.
Segundo
Felipe Wu, 24, prata na pistola de ar de 10 m nos Jogos do Rio, o apoio
foi um "divisor de águas" para ele continuar praticando o tiro
esportivo, modalidade que tem dificuldade para atrair patrocinadores.
Dispensado do serviço militar obrigatório, Wu tem contrato temporário
como terceiro-sargento técnico desde 2013. O contrato tem prazo de um
ano, mas pode ser renovado por oito consecutivos.
"Cada edital é para uma modalidade e não abre todo ano. Quando
participei, só eu concorri, já que o tiro tem poucos praticantes. Outras
modalidades foram mais concorridas. Eles avaliam currículo e teste
prático", disse.
Para se tornar militar temporário, os atletas passam por um treinamento
de 45 dias. Estudam a hierarquia militar, passam por teste físico,
aprendem a marchar e a prestar continência.
Depois desse período, os atletas não vivem a rotina militar nem
frequentam o quartel. São esporadicamente convocados para alguns eventos
e obrigados a comparecer. A maioria nem frequenta as instalações
militares.
Medalhista de prata na ginástica artística, Arthur Zanetti, 26, diz que
seu clube em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, já oferece a estrutura
que ele precisa para treinar, como técnico, fisioterapeuta e o restante
da equipe.
"Eu simplesmente faço parte da Força Aérea Brasileira. Eles me ajudaram
nesses últimos meses. Mas a minha rotina não mudou em nada. Dão apoio de
grana, quando precisa de alguma coisa, para ter um bem-estar", disse o
ginasta brasileiro.
"A
Marinha me deu todo o suporte durante o período que estive afastado da
seleção", conta o boxeador Robson Conceição, que é da Marinha e prestou
continência no pódio ao receber o ouro nesta terça (18) à noite.
Conceição e Zanetti estiveram entre os seis medalhistas que fizeram o
gesto na entrega de medalhas. Os atletas e a cúpula militar, contudo,
dizem que não há obrigação de prestar continência.
"Não
houve ordem. Foi um gesto espontâneo que foi contaminando a delegação
no Pan do Canadá, em 2015. Para mim, cada gesto daquele significa uma
medalha", diz o general Fernando Azevedo e Silva, comandante militar do
Leste e um dos idealizadores do programa.
O técnico de Zanetti, Marcos Goto, não gostou do gesto, no entanto. Na
segunda-feira (15), ele criticou a forma como as Forças Armadas
incentivam o esporte.
"Pegar atleta pronto é muito fácil. Quero ver apoiar até a criança
chegar lá", disse. Procurado por militares, porém, Goto voltou atrás.
Ele disse que tomou conhecimento do trabalho das Forças Armadas com
jovens.
Segundo o Ministério da Defesa, 21 mil crianças são atendidas em 89
cidades do Brasil no programa Forças no Esporte, que também é custeado
pelas pastas de Esporte e Desenvolvimento Social.
O programa custa R$ 25 milhões por ano, dinheiro que é usado na compra
de alimentação e equipamentos. As aulas acontecem em unidades militares e
são ministradas por voluntários ou membros das Forças Armadas.
MODELO
Marcus Vinícius Freire, diretor-executivo de Esportes do COB (Comitê
Olímpico do Brasil) e ex-jogador de vôlei, afirma que o soldo das Forças
Armadas é uma das partes do modelo de financiamento dos atletas do
país.
"Quando eu jogava vôlei, recebia salário do meu clube e aquilo cobria
meus custos. Hoje não é assim. Os atletas recebem do clube, dos
militares, e as bolsas Pódio e Olímpica [do governo federal]. E esse
combinado paga seus custos", disse ele.
Com 145 atletas, as Forças Armadas têm 31% dos 465 brasileiros na Rio-2016.
É um contingente maior do que o registrado em Londres-12, quando eles representavam 20% dos 259 atletas da delegação brasileira.
O programa, aliás, está perto de atingir sua meta na Olimpíada do Rio: conquistar dez pódios, independentemente da posição.
"Esta meta era um sonho que se torna realidade. Após a Rio-2016, o foco
estará nos Jogos Mundiais Militares, na China, em 2019, e na Olimpíada
de 2020", disse o ministro da Defesa, Raul Jungmann, que afirma que o
programa será mantido no próximo ciclo olímpico.
REGRAS DO ATLETA MILITAR
- Atender às convocações feitas pelas Forças Armadas para a disputa de
competições classificadas como relevantes para os militares;
- Apresentar relatórios sobre o treinamento esportivo;
- De acordo com as Forças Armadas, o atleta não é orientado a prestar continência quando estiver no pódio;
- O atleta é dispensado de exercer funções administrativas ou militares.
Colaboraram MARIANA LAJOLO e LUCAS VETTORAZZO, do Rio.
FOLHA DE SÃO PAULO/UNPP
Comentários
Postar um comentário
comentários