Vestidos de preto, policiais civis fazem protesto no Rio .

27/06/2016 15h27 - Atualizado em 27/06/2016 21h00

Mais cedo, categoria anunciou paralisação nesta segunda-feira.
'Bem-vindo ao inferno', dizia faixa estendida no desembarque do Galeão.

Cristina BoeckelDo G1 Rio
Após o anúncio de que fariam uma paralisação, agentes da polícia civil realizaram um protesto contra a precariedade das condições de trabalho em frente à sede da chefia da corporação, na tarde desta segunda-feira (27), na Lapa, região central do Rio.
Uma das principais reclamações dos policiais é o parcelamento dos salários (leia carta aberta à população no fim da reportagem). Os agentes se vestiram de preto simbolizando luto pela categoria e prometeram sair em passeata até a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Policiais levaram faixa para o galeão com os dizeres, em inglês: 'Bem-vindo ao inferno' (Foto: Reprodução/Globo)Mais cedo, policiais levaram faixa para o Galeão
com os dizeres, em inglês: 'Bem-vindo ao inferno:
policiais e bombeiros não recebem, quem vier ao
Rio de Janeiro não estará seguro'
(Foto: Reprodução/Globo)
De acordo com Fabio Neira, presidente da Coligação dos policiais civis do Rio de Janeiro, que organizou o protesto, a categoria é muito cobrada pela sociedade, trabalha sob risco e não tem condições para exercer suas funções plenamente.
"Este é um protesto pacífico, mas que mostra a situação da categoria no estado. Queremos esclarecer para a população a situação na qual nos encontramos", declarou Neira.
Ele afirma, ainda, que desde o começo do ano os agentes sofrem com a redução da estrutura nas delegacias e, agora, sofrem mais ainda com o parcelamento de seus salários.
Pela manhã, em um protesto no Galeão, uma faixa foi estendida no desembarque com os dizeres (em inglês): "Bem-vindo ao inferno: policiais e bombeiros não recebem, quem vier ao Rio de Janeiro não estará seguro".
"As deficiências são materiais, com redução nas cotas de combustíveis R sem dinheiro até para alimentar os presos, que muitas vezes acabam saindo do bolso dos agentes. Os contratos terceirizados com o trabalho de limpeza e de assistência social, que faziam um ótimo trabalho, também venceram", explicou o presidente da entidade.
Em entrevista ao jornal O Globo, o governador em exercício Francisco Dornelles disse que o dinheiro pra manter a frota da polícia em operação termina na sexta-feira (1º). O governo está aguardando a ajuda de quase R$ 3 bilhões prometida pela União. O governador disse que espera que esse dinheiro seja transferido até quinta-feira (30).
Em nota, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, reconheceu que os policiais têm trabalhado com profissionalismo para defender a sociedade, mesmo com gratificações e salários atrasados e que a secretaria aguarda a liberação dos recursos federais para honrar seus compromissos e dar aos policiais a serenidade necessária para proteger a população.
Parcelamento atinge aposentados
Gedeon de Souza e Silva, de 76 anos de idade, veio de Inhaúma para participar do protesto. Mesmo aposentado desde 1987, ele fez questão de estar junto aos colegas.
"Eu acho importante porque o estado deve muito aos policiais. São salários atrasados e temos que reivindicar para ver se as condições melhoram. Porque é um trabalho que envolve riscos", explicou.
Segundo ele, parcelamento dos benefícios também o afetou.
"Recebi uma parte dia 15 e não sei quando vou receber o resto", contou o aposentado.
Aposentados fizeram questão de comparecer ao protesto (Foto: Cristina Boeckel/G1)Aposentados fizeram questão de comparecer ao protesto (Foto: Cristina Boeckel/G1)
E não são só os aposentados. Policiais mais jovens também afirmam sofrer com a precariedade em delegacias. Duas inspetoras aprovadas em concurso público há menos de três anos e que preferem não se identificar fazem questão de mostrar o distintivo no peito, embora não escondam o desânimo com a situação da categoria.
"Falta papel higiênico e material de trabalho básico como caneta e papel para a impressão de boletins de ocorrência. As celas estão em estado de insalubridade. A gente faz vaquinha e traz muita coisa de casa", conta uma delas.
A outra completa a fala da colega e explica que os problemas chegam a ameaçar a segurança dos policiais.
"Fora o sucateamento das armas, a maioria está dando pane", acrescentou.
Categoria decide parar
Policiais Civis e delegados do Rio de Janeiro começaram uma paralisação na manhã desta segunda. De acordo com o representante do Sindicato dos Delegados de Polícia (Sindelpol-RJ), agentes não trabalharão acontecerá das 8h às 16h
O principal motivo expor as péssimas condições de trabalho enfrentada pelos policiais. Durante esse período, estarão suspensos os serviços de investigação.
Os policiais também reivindicam os salários que não foram pagos integralmente; o corte do orçamento; a falta de água, papel, impressora e faxina nas delegacias e no Instituto Médico Legal (IML).
Um comunicado emitido pelo Sindicato dos Delegados de Polícia (Sindelpol-RJ) foi feito para ser distribuído nas delegacias do estado e explicar à população os motivos da paralisação. Segundo o Sindelpol, quase todas as delegacias do estado apoiam o movimento.
A crise financeira ainda afeta a operação das aeronaves da instituição. De acordo com a assessoria da Polícia Civil, atualmente, as três aeronaves (uma executiva e duas operacionais) não estão sendo utilizadas por falta de recursos financeiros. Ainda de acordo com a instituição, todos os esforços estão sendo feitos junto à Secretaria de Estado de Segurança (SESEG) e ao Governo do Estado para resolver a situação.
Delegados e agentes fizeram paralisação no RJ nesta segunda-feira (Foto: Divulgação)Delegados e agentes fizeram paralisação no RJ nesta segunda-feira (Foto: Divulgação)

Civil diz que mobilização "é justa"
Em nota, a Chefia de Polícia Civil afirmou entender que a mobilização dos agentes é justa "em razão das dificuldades enfrentadas por esses importantes operadores de segurança pública".
Entretanto, quanto a deliberação em assembleia pela suspensão ainda que temporária do atendimento ao cidadão, "a chefia entende que é prejudicial à sociedade e está envidando esforços junto aos policiais civis no sentido de que o cidadão não seja duplamente vitimado. No tocante às demais deliberações, está aberta a entendimento com os delegados e demais classes para que a situação seja resolvida".
A corporação acrescentou que disponibiliza à sociedade o serviço de registro online e da Central de Atendimento ao Cidadão (CAC), pelos telefones (21) 2334-8823, (21) 2334-8835 e pelo chat.
Policiais civis do R Jenviaram carta aberta à população (Foto: Divulgação)Policiais civis do R Jenviaram carta aberta à população (Foto: Divulgação)
 

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