Como a Coreia do Norte paga por seu sofisticado programa militar?


14/02/2016 09h31 - Atualizado em 14/02/2016 09h31

Coreia do Norte 

Regime autoritário, dinheiro proveniente de exportações e parcerias estratégicas, tanto com aliados quanto com adversários, explicam desenvolvimento de armamentos de país comunista.

Da BBC Mundo 
O "isolado reino" da Coreia do Norte é um caldeirão de contradições.
O país é vizinho de várias das economias mais dinâmicas do mundo, incluindo a próspera Coreia do Sul, mas sua população sofre com toda sorte de privações.
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Em meados do século 20, a Coreia do Norte era um dos países mais industrializados da Ásia. Mas, hoje, é visto como um desastre econômico.
E, enquanto as condições de vida de seus cidadãos são precárias, o governo anuncia programas de desenvolvimento de sofisticados sistemas de armamento, inclusive de foguetes de longo alcance e bombas atômicas.
A Coreia do Norte reforça que o recente lançamento de um foguete é parte de um programa de exploração espacial, enquanto as potências ocidentais alegam se tratar de uma tentativa de desenvolver mísseis capazes de atingir alvos distantes.
De qualquer forma, são poucas as nações da Terra capazes de conceber tecnologias avançadas e tão caras.
Mas como a Coreia do Norte financia essas atividades?
Exportação e investimento
Em primeiro lugar, são necessárias divisas internacionais. Muitos estão de acordo que a Coreia do Norte fez importantes aquisições de tecnologia no exterior, em certos casos com fins militares.
E, apesar de ser um dos últimos países do mundo a manter uma economia centralmente planificada, ao modo stalinista, Pyongyang ainda consegue desenvolver um setor exportador.
Em sua página na internet, a CIA, a agência de inteligência americana, estima o tamanho da economia norte-coreana em torno de US$ 40 bilhões (R$ 160 bilhões), similar ao PIB de Honduras ou do Estado brasileiro de Goiás.
As exportações da Coreia do Norte somam, por outro lado, US$ 3,834 bilhões (R$ 15 bilhões), o equivalente às vendas externas de Moçambique ou das do minúsculo Estado europeu de San Marino, encravado na Itália.
Entre os produtos destinados ao exterior, estão minério e itens manufaturados, entre eles armamentos e artigos têxteis, além de produtos agrícolas e pesqueiros.
Mas como um país com uma economia de tamanho equiparável à de alguns dos países mais pobres da América Latina pode pagar por um programa nuclear?
Passando fome
A resposta parece estar na natureza autoritária e centralizada do governo, que destina os escassos recursos do país a fins militares, nem que para isso seus cidadãos passem fome.
O PIB per capita da Coreia do Norte, ajustado pelo seu poder de compra, chega a US$ 1,8 mil (R$ 7,2 mil), fazendo com que o país asiático ocupe a 208ª posição entre 230 nações, nível comparável ao de Ruanda, na África, ou do Haiti, na América Central.
Na década de 1990, o país enfrentou a ameaça de uma escassez generalizada de produtos alimentícios básicos, e sua economia levou um longo tempo para recuperar-se do desastre.
Foi um processo tão traumático que, até 2009, a Coreia do Norte recebeu uma substancial ajuda alimentar da comunidade internacional. Hoje, acredita-se que sua produção agrícola interna tenha melhorado.
Os clientes
E quem são os clientes dos produtos norte-coreanos?
O aliado político mais importante do país é a China, que compra 54% de sua produção. Em um inesperado segundo lugar, vem a Argélia, que é o destino de 30% das vendas do país. E, para a Coreia do Sul, vão 16% de suas exportações.
Apesar da Coreia do Norte e a nação vizinha viverem um dos conflitos militares mais longos de que se tem notícia na história, em curso desde o fim da 2ª Guerra Mundial, os dois países vêm fortalecendo os vínculos econômicos.
Alguns investimentos sul-coreanos se concentram em determinadas partes do pais, oferecendo ao governo norte-coreano outra valiosa fonte de divisas.
O núcleo mais importante deles é o complexo industrial de Kaesong, que está diante de um futuro incerto depois de o governo de Seul anunciar a suspensão de sua participação na iniciativa, devido às crescentes tensões políticas entre ambas as nações por conta dos testes nucleares realizados pela Coreia do Norte.
A Coreia do Sul diz não querer que os recursos gerados pela zona industrial sejam usados no programa militar norte-coreano. E as sanções econômicas impostas por vários países, inclusive as mais recentes aplicadas pelo Japão, devem continuar debilitando a economia norte-coreana.
No entanto, enquanto o governo do líder norte-coreano, Kim Jong-un, seguir disposto a impôr sacrifícios substanciais a seus habitantes, pode-se esperar que a Coreia do Norte continue a desenvolver seu poderio militar muito além do que seria possível esperar de uma nação com sua frágil condição econômica.

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