Governador admite pedir mais reforço ao Exército.

Mas, por enquanto, Pezão não vê necessidade de aumento de efetivo na área ocupada pelo Exército.

Francisco Edson Alves e Vania Cunha
Rio - A morte do jovem Jefferson na manhã de sábado, durante confronto entre criminosos e militares do Exército, marcou a data que completou uma semana da ocupação da Força de Pacificação no Complexo da Maré. Diferentemente das 38 pacificações anteriores, esta é a primeira vez que as forças de segurança enfrentam resistência de traficantes no território ainda no início do processo. Desde o dia 5, quando as tropas verde-oliva substituíram a Polícia Militar no conjunto de 16 favelas, foram registrados nove casos de tiros disparados contra militares, além de quatro manifestações de moradores, indicando que a paz ainda está longe da região.
Neste domingo, o governador Luiz Fernando Pezão anunciou que, caso seja necessário, o policiamento será ainda mais reforçado no complexo. Mas acrescentou que por enquanto não vê necessidade de aumentar o efetivo.
Moradores observam os militares em volta do corpo de Jefferson, no Complexo da Maré. Ele foi morto durante confronto na manhã de sábado
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
Pezão disse que confrontos em grandes áreas em processo de pacificação já são esperados. “Não se vence uma guerra para se conquistar a paz do dia para a noite. No caso da Maré, o estado assumiu o território após 40 anos de abandono de uma área que tinha duas facções criminosas e milícia.”
O governador garantiu ainda estar acompanhando a investigação da morte de Jefferson, conhecido como Parazinho, que não tinha passagem pela polícia. A 21ª DP (Bonsucesso) apura duas versões para o caso. Em nota, o comando da Força de Pacificação alegou que dois homens teriam atirado contra a tropa, sendo que o suposto comparsa de Jefferson teria fugido “com os armamentos.” Moradores, por sua vez, acusam soldados da Marinha de terem “plantado” (forjado) a apreensão de um radiotransmissor e três cartuchos de pistola 9 mm, supostamente ao lado do corpo.
As armas de dois oficiais que confessaram ter feito disparos foram apreendidas. Quatro fuzileiros navais prestaram depoimento sobre o caso. Até a tarde de ontem, o corpo de Jefferson, reconhecido por dois tios da vítima, ainda estava no Instituto Médico-Legal (IML). O clima, segundo moradores, ainda é de tensão dentro da Vila dos Pinheiros.
“Adoção de novas estratégias”
O confronto que terminou com uma morte na Vila dos Pinheiros, sábado, foi o ápice do conflito no complexo. Sexta-feira, um adolescente foi baleado também durante tiroteio entre militares e bandidos. Segundo o Exército, o menor estava com pistola calibre 9 milímetros. Em uma semana da execução da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que confere ao Exército poder de polícia, foram apreendidos uma pistola, três carregadores, 15 quilos de maconha, 50 unidades de haxixe, 20 comprimidos de ecstasy e pequena quantidade de cocaína e crack. Quatro pessoas foram autuadas por desacato, e duas foram presas.

À frente de uma das maiores ocupações já ocorridas, nos complexos do Alemão e da Penha, em 2010, o ex-comandante da PM e atual secretário de Segurança de Duque de Caxias, Mário Sérgio Duarte, atribui os ataques de criminosos ao Exército a alguns fatores. “Em primeiro lugar, tem que se observar que, se os criminosos estão atacando, é porque não se sentem suficientemente ameaçados por uma massa de efetivo do Exército. Para mudar esse quadro, além do patrulhamento dinâmico, é necessário também manter postos estáticos, principalmente nas áreas mais altas ou críticas, para evitar disparos do outro lado. Com o tempo, os criminosos aprendem a tomar medidas, e as Forças têm que adotar estratégias dinâmicas, mudar o comportamento tático”, analisou.

Mudança de ação não está nos planos da Força de Pacificação. “Vamos manter a estratégia, nada será diferente. O efetivo é suficiente para patrulhar a área. Além disso, já esperávamos essas ações”, disse o relações-públicas, major Kruchak.
Militares reclamam de alojamento
Militares se queixam da falta de condições de trabalho na ocupação. Os 2.500 homens foram divididos em quatro batalhões, sendo um, sediado no antigo 24º Batalhão de Infantaria Blindada, em Ramos. Desativada há quase 15 anos, a estrutura do antigo quartel está precária.
Parte da tropa foi alojada em barracas. “Não havia iluminação. O telhado está quebrado e muitos acordam gripados”, contou um militar. “Chegamos dia 5 e só vamos voltar em casa dia 21”, disse outro. Segundo o major Kruchak, contêineres vão abrigar militares, mas sem data prevista.
Militares se queixam do alojamento, onde dormem em barracas
Foto:  Foto de leitor
Família faz ‘vaquinha’ para fazer enterro de jovem
A família de Jefferson Rodrigues da Silva, 18 anos, está fazendo uma ‘vaquinha’ no complexo de favelas da Maré para conseguir enterrar o jove

Governador admite pedir mais reforço ao Exército

m que foi morto, no sábado, durante confronto com homens da Força de Pacificação. De acordo com a tia do rapaz, a camelô Silvana Siqueira Soares, o custo do funeral é de R$1.760, dinheiro que a família não tem no momento. “Ele não era bandido. Trabalhava num lava a jato há quatro meses. Antes, tinha um emprego numa farmácia e era muito querido lá. O que aconteceu é que ele correu e foi atingido. Mas ele nunca se meteu com nada de errado”, desabafou Silvana. Ela disse ainda que o maior sonho do sobrinho era comprar uma casa própria.
O corpo não será velado, porque aumentaria em R$ 180 a despesa com o funeral. Se a família conseguir arrecadar o dinheiro, Jefferson será enterrado hoje, às 10h, no Cemitério do Caju. Ele morava com a namorada na Vila do João e não tinha filhos. Seus pais, que são da Bahia, não devem vir para acompanhar o enterro. A família está com muito medo e evita falar sobre a morte.
Colaborou: Christina Nascimento

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