Corte de recursos enfraquece defesa brasileira, diz comandante da Marinha .
16 de Junho, 2016 - 09:00 ( Brasília )
Comandante da Marinha
Flávia Villela
O corte de cerca de 30% no orçamento deste ano da Marinha prejudicou projetos estratégicos para a área da defesa, afirmou hoje (14) o comandante da força, almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, durante café da manhã com jornalistas no navio-veleiro Cisne Branco, no Rio de Janeiro.
“Hoje a Marinha não tem o mesmo grau de prontidão que deveria ou precisaria ter. No momento, estamos vulneráveis”, disse Ferreira. Segundo o almirante, as ameaças ao Brasil são muito difusas, mas existem e podem aparecer. "Há dois anos, ninguém falava em Estado Islâmico. As surpresas surgem a cada ano, e a preparação de uma defesa demora uma geração para ser feita. Podemos ter uma crise a qualquer momento e a fronteira brasileira mais vulnerável é a marítima”, destacou Ferreira.
Ele lembrou que 10% do que se transporta
no mundo pelo mar saiu ou chega aos portos brasileiros.“Nossos navios
estão envelhecidos, são de manutenção cara – essa é nossa preocupação
para ameaças de maior nível. Temos muitas carências neste momento.”
Além da falta de verba para renovar a
esquadra, já antiga, o almirante citou o corte de recursos para 2016,
estimados em cerca de R$ 4 bilhões, o que obrigou a Marinha a adiar
vários projetos. Um deles é o Programa de Construção de Submarinos da
Marinha do Brasil (Prosub). O submarino de propulsão nuclear, cuja
conclusão estava prevista para 2023, deve começar a funcionar em 2027.
“O orçamento do Programa Nuclear, que chegou a R$ 400 milhões, teve que
ser cortado e caiu a R$ 200 milhões, e já tínhamos vários compromissos
assumidos que tivemos que saldar. Não foi uma transição fácil. Tivemos
que readequar programas, renegociar contratos e atrasar muita coisa.”
A crise também provocou a suspensão do
Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) por tempo
indeterminado. O almirante também citou as aeronaves, quase todas
antigas e muito usadas. “A cada vez, o número de aeronaves com que
podemos contar diminui, e algumas têm que ser mudadas no curto prazo.
Temos que enfrentar esse problema e arranjar os recursos necessários.”
O comandante da Marinha adiantou que está sendo estudada possibilidades de permuta de imóveis, sobretudo nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste para aliviar o problema orçamentário.
O comandante da Marinha adiantou que está sendo estudada possibilidades de permuta de imóveis, sobretudo nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste para aliviar o problema orçamentário.
Lava Jato e projetos da Marinha
“A Lava Jato ainda não chegou à Marinha”,
afirmou o almirante, ao comentar as investigações do contrato da
Odebrecht para construção do submarino nuclear. O Prosub é desenvolvido
pela Marinha em parceria com a empresa francesa DCNS e pela Odebrecht,
cujo presidente está preso por suspeita de crimes de corrupção
investigados na Operação Lava Jato.
De acordo com o almirante, o Prosub está
sendo auditado de forma rigorosa desde o início da assinatura do
contrato. Ele disse esperar que não haja problema nenhum. "Temos vários
órgãos auditando os vários setores. Até agora, nenhuma irregularidade
chegou a mim. O contrato está sendo executado”, afirmou Ferreira,
ressaltando que a Odebrecht está cumprindo os prazos e que a questão
orçamentária foi o principal fator para o atraso das obras.
Ferreira disse que outra parceria entre a
Marinha e a Odebrecht prejudicada pelas investigações da Lava Jato foi a
da empresa Próton, que sequer saiu do papel. O contrato foi firmado em
2014 entre a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT) e a estatal Amazônia
Azul Tecnologias de Defesa, criada em 2013, para apoiar o
desenvolvimento do submarino nuclear. Após o envolvimento da Odebrecht
nas investigações de corrupção, o projeto foi suspenso.
O almirante ressaltou, no entanto, a necessidade de criação de uma empresa nesses moldes para garantir a autonomia tecnológica do Brasil na área nuclear. “O desenvolvimento tecnológico envolve a criação de firmas de alta tecnologia. Se queremos ter tecnologia de ponta, precisamos criar empresas desse tipo.”
O almirante ressaltou, no entanto, a necessidade de criação de uma empresa nesses moldes para garantir a autonomia tecnológica do Brasil na área nuclear. “O desenvolvimento tecnológico envolve a criação de firmas de alta tecnologia. Se queremos ter tecnologia de ponta, precisamos criar empresas desse tipo.”
Olimpíada e crise
O almirante garantiu que os cortes não
vão afetar atuação da Marinha durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos
no Rio de Janeiro, que serão disputados em agosto e setembro. “Em termos
militares, a operação é muito simples. É uma área restrita. O nível de
ameaça é considerado relativamente baixo. Estamos prontos para a
Olimpíada.”
A Marinha atuará na área de Copacabana,
que engloba a zona sul da capital fluminense, com a força de
contingência, e na área marítima.
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