Em apenas um dia, bandidos fazem cinco ataques na Maré .
9 de abril de 2014
Em apenas um dia, bandidos fazem cinco ataques na Maré
Mototaxista foi baleado, e Exército afirma que não vai mudar a rotina de trabalho
Militares patrulham a Maré - Foto: Carlos Moraes (Agência O Dia) |
ATHOS MOURA , FLAVIO ARAÚJO , MARCELLO VICTOR , MARIA INEZ MAGALHÃES E VANIA CUNHA
Rio - Cinco ataques a tiros, inclusive contra tropas do Exército,
em apenas um dia. A retaliação de traficantes que ainda permanecem no
Complexo da Maré mostram que a pacificação ainda é um caminho longo a
ser percorrido pelas Forças Armadas, que também enfrentam a reação de
moradores insatisfeitos com os métodos de policiamento dos militares.
Segunda-feira, foram feitos protestos na Baixa do Sapateiro e Vila dos
Pinheiros. Lideranças de comunidades entregaram ao secretário de
Segurança Pública, José Mariano Beltrame, documento com seis exigências
para guiar as ações das tropas. Segunda-feira, o mototaxista Fábio da
Silva Barros, de 28 anos, foi baleado nas costas por ocupantes de um
Corolla preto que abriu fogo contra o ponto de mototáxis da Avenida
Brasil.
Segundo o relações-públicas da Força de Pacificação, major Alberto
Horita, a tropa que ocupou a Maré já entrou preparada e com planejamento
que previam ações do crime organizado. “Não posso dizer que não
esperávamos esse tipo de ataque, não nos surpreende. Estamos trocando
informações com serviços de inteligência das polícias na tentativa de
identificar esses criminosos. Não vai ser esse evento que vai nos fazer
mudar a nossa rotina de trabalho”.
“Na Maré sempre teve guerra por território. Infelizmente, dessa vez eu
que fui a vítima”, contou Fábio, morador da Vila dos Pinheiros,
ressaltando que não é raro que moradores sejam vítimas dos traficantes
rivais. Ele disse que estava próximo a quatro militares quando o carro
passou. O atirador abaixou o vidro e disparou duas vezes. Ele recebeu os
primeiros socorros dos militares até a chegada dos bombeiros. A bala
ficou alojada no ombro.
A vítima contou que nunca se envolveu com facções criminosas. Ele
responde a processo por estelionato na 5ª Vara Criminal Federal e foi
preso em 2009 pela Delegacia Fazendária da Polícia Federal. O primeiro
ataque ocorreu às 23h30, no Conjunto Esperança. Colegas de Fábio
disseram que os paraquedistas não reagiram e chegaram a se jogar no chão
para se abrigar dos tiros. Horita não confirmou a informação, mas disse
que é um procedimento usual se abrigar e verificar de onde partem os
disparos.
Cerca de 500 metros do local do primeiro ataque, os bandidos dispararam
contra mototaxistas no ponto da Vila do João. Depois, criminosos
atiraram novamente na Vila dos Pinheiros, Baixa do Sapateiro e Timbau.
Revoltados, os mototaxistas fizeram protesto, interditando com as
próprias motos duas faixas da Av. Brasil no início da madrugada de
ontem.
Em nota, o Exército confirmou os ataques e alegou que não foi possível
prender nenhum dos suspeitos, que fugiram. “Sabemos que ainda há
presença de traficantes, apesar de não termos confronto”, disse o
comandante da Força de Pacificação, general Roberto Escoto, no sábado.
Colegas de vítima fazem críticas
Os militares do Exército que estão na Maré desde o último sábado foram criticados pelos mototaxistas
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia |
A abordagem de militares foi criticada por colegas de Fábio, que
classificaram a ação como ‘autoritária, sem planejamento e desgastante.’
Eles alegam que, em alguns locais, os mototaxistas não trabalham de
capacete, outros são revistados constantemente e que os militares ficam
apenas na entrada das comunidades. O major Horita informou que não
recebeu nenhuma denúncia contra os militares, mas que está apurando os
casos. “As tropas são experientes e aptas a enfrentar qualquer ameaça”.
Ontem, agentes da Divisão de Homicídios (DH) fizeram as reconstituições e
perícias complementares de sete das 10 mortes ocorridas na Maré em
junho, durante confronto entre traficantes e policiais do Bope. Entre as
vítimas, estavam o sargento Ednelson Jerônimo dos Santos e o garçom
Eraldo da Silva, o único dos moradores mortos que não tinha antecedentes
criminais.
A DH convocou 40 policiais do Bope e até o blindado usado naquela noite
foi usado. Oitenta agentes da Polícia Civil participaram da ação, que
terminou à noite. “É para esclarecer todas as circunstâncias. Todos
estão sendo tratados como testemunhas. Temos dois objetivos: confrontar
os depoimentos com o que foi apurado pela perícia e verificar se o que
foi apresentado pelos PMs corresponde às lesões das pessoas”, disse o
delegado Rivaldo Barbosa.
Delegado não acha que atiradores sejam do Caju
Ontem, o clima na Maré era aparentemente tranquilo, mas mototaxistas que
circulavam com Fábio trabalharam tensos. “A gente tem que trabalhar.
Mas a qualquer momento pode aparecer de novo um criminoso e dar um tiro
no peito de alguém”, contou um mototaxista que não quis se identificar.
“O que aconteceu foi um absurdo. Eles (bandidos) acham que a gente fica
passando informações. A gente não faz nada disso, só leva e traz
pessoas”, reclamou.
Segundo moradores, uma semana antes da ocupação, traficantes do Caju
(onde há UPP) fizeram ameaças de ataques e de tomar o controle das
comunidades. O delegado da 21ª DP (Bonsucesso), Delmir Gouvêa, não
acredita que os autores dos disparos sejam do Caju. “Não há nada
concreto sobre isso. O que sabemos é que existe uma briga antiga entre
bandidos da Baixa do Sapateiro com os da Nova Holanda, que são de
facções diferentes. Já solicitei à CET-Rio as imagens das câmeras. Vou
ouvir testemunhas e a vítima quando sair do hospital”, disse o delegado.
O Dia
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