COMISSÃO DA VERDADE BARRADA PELO EXÉRCITO


Visita ao batalhão onde funcionava DOI-Codi é barrada pelo Exército

  • Comissão da Verdade quer criar um centro de memória no local Ministério Público Federal não foi autorizado a entrar no quartel.


- 19h43

Parentes de desaparecidos e militantes que foram torturados tentam visitar dependências do antigo DOI-Codi
Foto: Marcelo Piu / O Globo
Parentes de desaparecidos e militantes que foram torturados tentam visitar dependências do antigo DOI-Codi Marcelo Piu / O Globo
RIO - Membros da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e parlamentares foram barrados nesta quarta-feira no 1º Batalhão de Polícia do Exército, localizado na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, Zona Norte do Rio. No local, funcionou durante a ditadura militar o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Eles chegaram a entrar na unidade, onde foram recebidos pelo comandante da instituição, o tenente-coronel Luciano, que não autorizou que o grupo visitasse as instalações da unidade.
Na parte da tarde, membros da comissão tiveram uma reunião com generais do Comando Militar do Leste para requisitar autorização para a visitação, negada novamente. O grupo pedirá permissão ao ministro da Defesa, Celso Amorim.
— O general interpreta a Constituição de uma maneira e a gente de outra. Eles entendem que a maior autoridade é o Comando Militar, nós temos ciência que é o Ministério da Defesa — afirmou o presidente da Comissão Estadual, Wadih Damous, em coletiva, após a reunião com os generais — O Exército ainda age com um misto de arrogância, medo, prepotência e autoritarismo.
O DOI-Codi foi um órgão de inteligência e repressão subordinado ao Exército brasileiro, durante o regime militar. O Ministério Público Federal (MPF) pediu a autorização para visitar o quartel, porém, na terça-feira, o requerimento já havia sido negado pelo Exército. Hoje, membros da Comissão Estadual da Verdade e parlamentares foram à Rua Barão de Mesquita em uma tentativa de reverter a situação e negociar a entrada, em vão.
— A proibição é ilegal e antidemocrática. A solução é bastante simples. Só depende do Exército. — completou Wadih.
Varal com fotos de desaparecidos e mortos
Na frente do Batalhão, estavam presentes cerca de 100 pessoas. Algumas delas foram torturadas no local, e outras são familiares de desaparecidos políticos durante a ditadura. Um varal foi exposto com fotos dessas vítimas, com as datas de nascimento e de desaparecimento. Um cartaz reivindicava “memória, verdade e justiça”.
À tarde, integrantes da comissão serão recebidos no Comando Militar do Leste, numa tentativa de pedir permissão para percorrer as instalações do batalhão. O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) também tentou, acompanhando a comissão, visitar o local. Ele esteve preso na unidade entre 19 e 29 de julho de 1977.
— A medida que vou tomar como membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara é convocar o ministro da Defesa, Celso Amorim, para saber por que não é possível abrir (para a entrada) um centro de tortura histórico — questionou Valente.
Em nota, o Comando Militar do Leste alegou que “não poderá ser realizada a visita tendo em vista não ter sido encontrado respaldo legal que essa comissão, instituída com base em lei estadual, possa diligenciar em área sob administração do Poder Executivo Federal”. No entanto, o pedido também foi formalizado pelo MPF.
— Na hora que vinhamos encapuzados para cá, ninguém perguntava se a gente queria entrar — protestou na porta a professora de História Maria de Fátima Setúbal, de 60 anos, que ficou presa no local por dois meses, em 1972.
Projeto em transformar o local em centro de memória
A Comissão da Verdade pretende transformar o local em um centro de memória do período militar junto com outros prédios que foram utilizados como locais de detenção de 1964 a 1985.
— Em todos os locais do mundo isso acontece. Queremos transformar em espaços de memória o DOI-Codi da Barão de Mesquita como também a Casa da Morte, em Petropólis, e tantos outros lugares que foram bases de torturas durante o regime — afirmou Wadih
O jornalista Álvaro Machado, membro da comissão e ex-preso político, não conseguiu ir até as dependências do antigo DOI-Codi, que ficava nos fundos da instalação do Exército, onde ficou detido em 1970 e 1973, mas se emocionou em entrar no batalhão.
— O que fazemos é um resgate de uma memória que não pode ser esquecida. Precisamos revelar esse passado para que ele não se repita — apontou Álvaro Machado.


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